quinta-feira, 29 de abril de 2010

Indesejos lucrativos





E o terceiro que acaba de sair do quarto, encosta a porta e solta a ‘onça’ grunindo no bolso estéril da necessidade. Então, o chuveiro passa a lavar sua pele e nas gotículas aquáticas escorrem os resquícios do suor, contaminado pelo ‘indesejo’ da junção dos corpos nus.
Chega vistoso, o quarto e a ‘onça’, nessa hora, cede lugar à ‘garoupa’.
No quarto a máquina de fazer ‘felizes’ agora trabalha a todo vapor. Portanto... sudoríparas em ação.
O dia aparece e a fábrica, paradoxalmente, fecha a sua única porta; o seu regime é de turno... Noturno.
Seu único proletário é o seu próprio dono e nesse caso, havendo a Mais Valia, todos os lucros serão homônimos.
É nessa hora que seu corpo dorme e amanhece quando chega a tarde mandando à merda os homens e a vida.
Ela tem apenas 15 anos, e prazer mesmo...
Só sente quando come pizza portuguesa com refrigerante.


Jairo Cerqueira

11 comentários:

Ricardo Fabião disse...

Meu amigo...
o refrigerante e a pizza são o portal de volta ao mundo dos vivos. Ela não vive; não sabe que gosto tem isso... não pode estando tão à margem de si mesma; usufruindo lucros tão absurdos de sua própria dor.

Belo texto.
Intrigante, inteligente, visceral, cru...

Greyce Kelly Cruz disse...

UAU
TEXTO BRILHANTE
ME DEIXOU IMAGINAR BOBAGENS E DEPOIS ME PEGA DESPREVINIDA A ME MOSTRAR A VERDADE
BOM APETITE
MANDA UM PEDAÇO DA PIZZA PRA MIM...

RUBENS GUILHERME PESENTI disse...

jairo, o texto é fantástico. cortes rápidos como são rápidos o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto e o próprio quarto.
só não sei se a pizza portuguesa e o refrigerante são de fato a vida real ou o verdadeiro sonho.
grande!

abraços!

jairocerqueira disse...

Ricardo, Gookz e Rubens: Obrigado pela visita. Os comentários são contribuições necessárias para amenizar todas as carências que um texto carrega consigo.
Um abração em todos vocês!

Gerana Damulakis disse...

Entrei para agradecer a visita ao Leitora e aproveitei para conhecer seu espaço. O texto é muito bom, a ironia final com o prazer da pizza portuguesa amarrou bastante bem a intenção.

Jairo Cerqueira disse...

Grato, Gerana. Volte sempre.

Juscelino Mendes disse...

Isso me lembra uma canção triste, que diz: "guarda o teu sorriso, que a minha dor pede passagem".

Um homem que aceita uma menina nessas condições, não é homem, mas
uma sombra de um ser.

Abraços.

Jairo Cerqueira disse...

Grande mestre.
Obrigado pelo comentário.
Um forte abraço!

Bípede Falante disse...

Olá, Jairo. Vim palavrear com você. Adorei o seu post. Nunca tinha visto algo que acabasse em pizza ter tanta qualidade. A estranheza que gera é admirável.

Jairo Cerqueira disse...

Que bom ter sua participação por aqui.
Um abraço.

Unknown disse...

Meu amigo Jairo,

Fiquei sem ação... Juro que lí e reli algumas vezes as "onças" e só me dei conta do que era quando cheguei na "garoupa".... Que ignorância a minha!!

Sutil, poético, singelo e demasiadamente atual.

Show de bola!!

Abraços,

R. Marcchi