sábado, 30 de janeiro de 2010

Ebulição




Quando o meu corpo encontra o seu,
Nossos glóbulos fervem de uma forma especial.
O suor da sua pele misturado com o meu
Denunciam a ebulição de uma mistura hormonal.

Nessa hora o que era dupla
Torna-se só unidade
É todo o imaginário
Brotando em realidade

Não pode o coração ser envolvido neste ato
Os dois corpos clamam apenas por prazer sexual
E muito bem entrelaçados, vão aos poucos se entregando.

Numa noite prazerosa, alucinante e enluarada
A volúpia bombardeia de uma forma exagerada
E os gemidos forjam a idéia de que os dois estão se amando.

 Jairo A. Cerqueira  04/2006.





                                        

Eduque a ação



Ensinar é utopia, ninguém ensina nada a alguém. O ateniense, filho da parteira disse um dia: "Todo conhecimento vem de dentro".
Embasado por essa maravilhosa afirmativa, creio que o papel do professor é, acima de qualquer coisa, despertar no Aluno (Aluno = sem luz... da pra conceber essa etimologia nos dias atuais?) o desejo de retirar de dentro de si aquilo que pelo uso da sua reflexão será transformado em conhecimento.
Eis então o grande desafio: permitir que a informação seja livremente degustada para que o conhecer aflore com sabor transformador.
Não somos máquinas feitas para aperfeiçoar discípulos, somos apenas discípulos  ajudando a desmaquinar pessoas.
Que nossas ações não precisem ficar na história. Quando agirmos coletivamente de verdade, a história não terá tempo para idolatrias.
"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida. Ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias". (Nietzsche - Assim falou Zaratustra)
Parabéns, professor transformador!

Jairo Cerqueira  14/10/2009

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A escola pede socorro







A escola abriu os braços e clamou por socorro. Era mais um início de ano letivo e nada de novo aparecia, senão, o tipo das fardas a serem usadas por aqueles alunos que serviriam de modelo para incrementar o seu aspecto visual, um tipo assim de “marqueting de identidade”. Foi uma coisa deprimente; a escola gritava, e aos prantos entristecia-se mais e mais. Ao notar que seu clamor era extremamente imperceptível, não lhe restou outra coisa a não ser compreender que sua ação era tão patética quanto inútil. “Quero mudar!”- dizia ela.
Mas, para realizar o seu desejo, a antiga e arcaica escola precisava de uma ação corajosa e racional dos que lhe geriam: desde o topo até a base. No topo, sempre alguém com autonomia. Autonomia suficiente para fazer tudo que for necessário para não mexer nas estruturas de onde originou o seu cargo.


“Senhoras e senhores, a escola tem o asco de lhes apresentar o seu principal gestor... o TECNOBURROCRATA!”.


Na base, figuram os professores. Responsáveis pela aplicabilidade das ações pedagógicas, eles foram e continuam sendo escravizados pelo sistema ao qual se põem a criticar redundantemente em todos os cursos de especialização que fazem; mais por uma questão de status, que, pela necessidade de renovação do saber.
Sob o topo e a base, encontram-se os alunos. Esses recebem o produto de um trabalho com base na seguinte equação: (Q+A:B-Q=M=>I) Quantitativo (nota) + Assiduidade : Bom comportamento Questionamento = Mentira => Imbecilização. Porém, muitos deles acostumados a degustar essa “ração intelectual”, passaram a gostar, e inclusive brigar com alguns poucos profissionais que se arvoram a tentar incluir a reflexão e a construção como uma forma de tirá-los desse impiedoso esmagamento. Eles descobriram que mesmo esmagados, conseguirão atingir suas metas: por as mãos no tão venerado diploma.
Em meio a todos esses acontecimentos, a escola então, vendo-se na condição de dependente, segue o curso de sua história, inerte, passiva, inoperante; sendo um local chato, uma tribuna de discursos prolixos e repetitivos: “chamada, dever, lição e nota”, fórmula ideal para se fazer um idiota. O que lhe resta é adormecer, ser permissiva e esperar que aqueles que “podem” fazê-la diferente, realmente queiram sair do lugar comum em benefício da transformação desse quadro arcaico e deprimente.
Enquanto isso não acontece, você aluno! poderá encontrar em algumas escolas um túmulo escrito: “Aqui, JAZ a educação!”. E se por ventura na sua não houver, não se precipite em achar que ela ali vive. Antes de qualquer crise de otimismo, pense na possibilidade de sua instituição ser tão descompromissada que não se deram ao trabalho nem de sepultá-la. Ficando a pobrezinha enterrada em qualquer lugar como indigente. 








                                                      Jairo A. de Cerqueira  20/01/05                                                      

Crônica suburbana





“A saideira e a conta”! O cidadão, ouvindo aquela voz baritonal, levanta-se e se dirige até o balcão para fazer a soma, enquanto termina a última partida de palitinho, ou porrinha, ou... qualquer porra, nessa maravilhosa metamorfose lingüística. Já passava das 16:45m, e na Avenida Suburbana nós só pensávamos em tomarmos o ferrie boaty das 17:30m, antes, porém, esperamos (contra a vontade das mulheres, claro!) pra ver quem ia perder a final. Perdeu Lula, o último a entrar no jogo. Abraços e despedidas e então, entramos no carro. Éramos cinco pessoas: dois casais e um pequeno questionador descendente dos Karamazov (Dimitri). De saída perguntei meio perdido: “Vamos ter mesmo que retornar isso tudo? A saída é ali perto”! Os olhos do velho Chico, conduzindo o veículo, voltaram-se para os meus, de uma forma tão paciente que pouparam a sua voz de me dizer que a tal saída era contra mão. Lá fomos nós em busca do retorno para depois, seguirmos em direção ao terminal de embarque. Durante o percurso nos deparamos com uma aglomeração típica de um sábado movimentado no tráfego urbano, ou pra ser mais preciso... Suburbano. Várias pessoas em volta de um cidadão que gemia apenas com o semblante pálido e desolado, sem sequer poder se contorcer. E os nossos olhares, dentro do carro, observavam aquela cena com dúvidas medíocres, mas pertinentes ao momento. “Parece que foi moto”! – “Deve ter sido atropelado enquanto pedalava em sua bicicleta”! – “Será que estava em água dura”?
Enquanto isso, um bêbado lerdo acenava com os olhos e as mãos bambas, aliás, o corpo todo bambo, ordenando que adiantássemos o nosso lado.
“Aqui é foda, vacilou dançou”! - Mais um lugar comum expressado na falta do que dizer.
“Meu vô, dirija devagar, vochê tomou cerveja”! - Entrou em ação o lúcido questionador, atingido indiretamente pela cena desagradável que tinha visto. “Você não confia em mim não é seu porra”? - Disse o velho Chico, um pouco impaciente, mas não menos atento ao trânsito. “Não”! - Respondeu baixinho o esperto e precavido Dimitri.
Enfim, retorno feito, pista razoavelmente acessível e, novamente passando próximo ao local do fato, ouvindo o barulho da sirene da SAMU (serviço de atendimento médico de urgência), vendo o engarrafamento que se alongava do outro lado da pista e também o corpo que agora já se contorcia no asfalto, o velho Chico faz o seguinte comentário: “Se a gente demora mais um pouquinho pra sair, olhe só onde a gente ainda ia estar. O ferrie de 17e30  ia pra casa do caralho”!
E todos nós, sem lembrarmos um só momento do corpo que estava ao chão, concordamos plenamente com ele.
Isso não é nenhum absurdo; faz parte da defecção humana.
Vida que segue!


Jairo Cerqueira (após um dia mesclado entre shopping Center e barzinho de beira de pista)

As cabras de Lek piu


Era mais uma terça-feira quente no sertão da Bahia e a população de Valente despertava com um fato novo e incomum para avaliar e, claro, debater.
Cansado de conviver com a rotina dos pastos repletos de “Pérolas Negras” expelidas pelas cabras (diga-se de passagem, sem nenhum valor monetário), um típico cidadão valentense caminhava de posse em posse a observar as criações nelas contidas, como quem queria começar o dia em paz com a mãe natureza. Ao deparar-se, desta vez, com uma coloração diferente em algumas bolinhas de esterco espalhadas em certo pasto, o humilde homem foi tomado por uma grande surpresa, que junto com a sua curiosidade o deixou pálido e trêmulo. Logo que conseguiu respirar normalmente, chamou um dedicado estudante de 8ª série que estava a caminho da aula de história, e contou o que viu. Sem muito conversar, o “dedicado” aluno desviou a rota, se dirigiu ao local e foi o primeiro a veicular a notícia para as pessoas que encontrava:
___ “... brilhavam como pepitas extraídas de uma jazida mineira no século XVIII!” - dizia ele.
___ “Estamos diante de um milagre!” - sussurrava uma avarenta e fanática beata.
___ “Isto é caso para estudo!” - afirmava um QI acima da média, oriundo de uma cidade vizinha.
De repente, grita fortemente um cético que observava tudo atentamente:
___ “Seja lá o que for, não deixa de ter cheiro de MERDA-FOLCLÓRICA-BAIANA!”.
Ao ouvirem este brado, os menos ansiosos por fortuna deduziram de súbito, que as Cabras de um tal de “Leck Piu” (esta alcunha é uma mistura de quase inglês com italiano), estava aproveitando e degustando, fazia algum tempo, as sobras dos acarajés e abarás feitos pela baiana Luzimar. E como “mancha de dendê não sai”, já dizia o poeta Morais Moreira, lá estavam as tão contempladas e cobiçadas bolotas de excremento caprino, reluzentes como as pedras ainda não polidas, que sustentavam o luxo da vida imperial, prontas para enriquecer e adubar, apenas o solo valentense.
Se a moda pegar, a simpática população de Valente correrá o risco de conviver com o surgimento de uma nova patologia; o CAPA (Colesterol Agro Pecuário Adquirido).
Isso será caso para estudo?


Jairo Cerqueira - 18/01/2005

A intertextualização do pagode

Em uma mesa de bar escutei uma batida instigantemente compassada, mas que trazia, para o meu desgosto, um refrão esdrúxulo que putrefazia toda aquela beleza rítmica. Era algo mais ou menos assim: “Boca de me dê, boca de me dá. Boca de me dê, boca de me dá”. Confesso que nem para dançar eu tive ânimo, porém, para minha surpresa, aproximava-se de mim e do colega ao lado, uma figuraça que tinha por característica principal, o hábito de contribuir para pagar a conta. Pensei:
_ Será coincidência, ou certos “poemas pagodais” evoluíram para o plano astrológico?
Desconsiderei a dúvida. Logo em seguida fui presenteado com a Banda Adão Negro e suas canções conspirando contra o Apartheid. Eu e o colega já liberávamos adrenalina com a liberdade de expressão corporal (Assim define o companheiro Jíder sobre o Regaae) e quase todo o bar já entrava em sintonias rítmica, discursiva e consumista. Até que alguém bradou fortemente: “Tira essa maresia daí! (na verdade ele disse mesmo foi – essa misera). Esse alguém, aparentemente irritadíssimo, era uma vítima indireta do Apartheid cantado pelo “Adão”. Ao visualizar o porte físico do questionador, ou seja, do agitador, o garçom nos olhou com uma cara que tinha uma “Boca de me dê” uma solução. Vendo o vexame do Bar Man (esse texto é globalisadíssimo) rapidamente o amigo plagiou Sine Calmon e disse em voz alta:
_ Ta liberado brotheeeeeeer!
Demos continuidade ao papo recheado com lúpulo e cevada e, entre uma garrafa e outra ouvimos “Mulher Brasileira,” cantada pelo Psirico, uma bela canção, que, aliás, ironicamente foi composta pelo mesmo sujeito que antes havia metralhado algumas pagodeiras, mas... faz parte.
Após esse momento diferenciado do pagode baiano, ouvimos uma música que pode ser considerada como a silabação da mediocridade musicada. É algo assim que tem que ser minuciosamente interpretado. Portanto, o produto final dependerá muito do seu perfil adquirido nas séries iniciais, é tipo assim:
_ “Eu disse Ma mas (não seria mais? – Ah, deixa pra lá.)conha. Cadê?”
_” Sa mais ci”... “Saci mais zêru”!
Assim que a melodia começou, não tive outro jeito senão parar de conversar para meditar sobre algo que me chamou atenção. Com trabalhar essa obra musical com adolescentes e pré-adolescentes sem fazer apologia, e consequentemente ser censurado. Veio-me rapidamente um tirocínio: eu poderia tomar como bibliografia o livro “O Sítio do Pica-pau amarelo” de Monteiro Lobato. Seria o bastante, pois: O saci entraria na parte de estudo de lendas, não mais como muito moleque e sim como “Mutcho dôdho”. A maconha poderia ser trabalhada como crime ambiental, afinal de contas ela é cortada, e queimada muitas vezes sob a luz solar (que é uma fonte natural de energia) ou, em antítese, ela poderia ser vista como remédio (droga). Quem sabe se a sua utilização não faria a Cuca ficar legal (boazinha) e de quebra ainda fizesse a cabeça da pobre mula.
De fato, penso que possa ser um show interdisciplinar.
Como já saí do plano etílico para o educativo, vou finalizar, expondo algo que me foi perguntado por um aluno aspirante ao Segundo Grau, logo após conversarmos bastante sobre a influencia de algumas letras de pagodes na formação do aluno universitário.
_ Você gostaria de ver suas filhas dançando “Rala a Theca no chão”. – perguntou ele cinicamente.
Respondi de imediato:
_ Preferia que fosse... “Desce com a mão no Tabaco”! Por entender que é algo mais higiênico e evitaria uma possível contaminação vaginal.

Jairo Cerqueira

A origem de um mito

A vida carnal é tão viciosa que um filósofo ateniense dizia que tememos a morte sem nem ao menos conhecê-la. Alguns conhecedores da espiritualidade dizem que na hora da morte há uma enorme resistência para o espírito deixar a carne. Não sei ao certo se é isso que ocorre, porém um fato curioso aconteceu em um determinado lugarejo a muito, muito tempo:

Em meio a várias aves cultivadas em uma fazenda, havia uma galinha diferente de todas as outras. Era uma criatura apaixonada pela vida terrena. Viver! Viver! Viver! Era o seu lema; amava a vida e, portanto desenvolvera um método mirabolante para não se tornar conteúdo de cardápio. Criou mecanismos, obviamente fundamentada na psique, para perceber no semblante do bicho homem se seria ela a escolhida para ir à panela. Mediante esse estudo de semblante, toda vez que se percebia a escolhida, utilizava seus truques de camuflagem e escapava. A cada escapada mais vida, e a cada dia vivido, mais amor à vida. Pela arte de escapar da morte, tornou-se a mais velha entre as galinhas. Mas, por ironia do destino a velhice nos dá sabedoria, - por sinal, ela já dava consultoria sobre como resistir à matança -, contudo nos traz percalços como a falta de reflexo e agilidade. Certo dia, ao vacilar frente ao matador (o astigmatismo não lhe permitiu fazer a leitura do semblante), foi hostilmente capturada. Naquele momento sua alma sentiu pela primeira vez que poderia deixar o corpo. Então, ela gritou de forma dolorosa, ou cocoricou – como queiram. Nunca, na história se viu uma matança tão dolorosa, era a alma brigando para não deixar o corpo; ser corpo era bom, e a briga continuava. Para o espanto das poucas pessoas que lá estavam, entre a faca e o grito, a galinha sumiu das mãos do homem. Evaporou. Junto com sua alma, pasmem, foi também o seu corpo. Ninguém soube explicar o acontecido. Muitas pessoas não valorizaram o fato contado pelos empregados da fazenda. Mas ainda hoje algumas pessoas refletem sobre o fenômeno, sobretudo quando buscam entender o conceito de “ALMA PENADA”.




Jairo Cerqueira 18 de outubro de 2005.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Pós visão do tempo




É PRIMAVERA e então floresce a vida humana
Tudo é belo e infantilmente perfumado, colorido, ingênuo e incógnito

Aí, vem o VERÃO; quente e empolgante
E todos verão a vida diferente
Novidades, energia, energéticos, estéticos, patéticos.
Tudo continua belo, nem sempre perfumado, mas... conflitante.

OUTONO, huuum! Frio e calculista
Já nem tão florido, mas... forte, vigoroso e frutificado pelo passar dos anos
Então, a percepção de que a vida não é tão diferente assim.
O verão passa a ser visto como algo encantador
Mas coerentemente o viver se baseia mais na pureza primaveril.

“Em Fim”, é chegado o INVERNO. Bastante frio, tranqüilo e sereno
O homem vive amalgamando a essência das estações climáticas vividas.
Aceitação, decadência, melancolia, patologia.
Por mais que se esforce ele, despercebido e desvalorizado, passa... ultrapassado.

Pela cruel ação da natureza que o formou
A neve do tempo tinge impiedosamente os seus cabelos.

Eis aí, na vivência climática do preconceito
A consolidação da desgraça humana.


Jairo Cerqueira

domingo, 10 de janeiro de 2010

O que é mesmo o amor?




O que enfim chamamos de amor?
O beijo perfumado do amado
O abraço ofegante e apertado
A esmola ofertada ao pedinte
Ou o retorno a cada ato de bondade?

Se o amor existe mesmo
Não deve ser perfumado
Caridoso, bondoso ou compreensivo.

Se o amor existe mesmo
Não está na estética, na cútis
Nos cabelos, no bem, ou mal sucedido.

Se o amor existe mesmo...
Ah! Se ele realmente existe...
É invisível aos olhos dos tolos
Dos arrogantes, dos rancorosos
É o mais belo entre os “horrorosos”.

Está mais na fome que no saciar
Pois, com o estômago cheio é bem mais fácil amar.

O amor dos corações flechados por cupidos
Dos casais casando e cansando apaixonados
Esse sentimento não chega a ser desprezível
Mas não faz sentido chamá-lo de amor

O amor está acima de todas as patologias cerebrais
Portanto, como a maioria da humanidade vive em estado terminal...
Esse “amor patológico” nada mais é que uma embriagues ofegante
É um conjunto de emoções que o transmuta para o ódio

Só se pode amar nu

E o mundo está cheio de amantes ultrajadamente trajados
Para os sensatos, o amor verdadeiro é inalcançável.
O que se pode é evoluir e aproximar-se cada vez mais do ideal.
Ainda assim, por mais que se evolua nunca se chegará ao ápice.
Pois, na sociedade em que vivemos, toda nudez será castigada.

Jairo Cerqueira

Estúpido marasmo perseguidor

Acima do milharal existem corvos voando.




"Eu, um ninguem, um nada, tenho por condecendencia, ou por caridade, o dom de observar sem ser observado. Sendo assim, me ponho a vagar à procura do belo e da racionalidade". (Um Corvo eremita)


Como é bonito visualizar os verdes atrelados ao amarelo ouro, cabeludo e as vezes amarronzado pelas palhas secas. Verdadeiramente o milharal é uma bela paisagem, onde os olhos se perdem à procura do seu final. Com um brilho cintilante, os milhos, como ouro, vão produzindo uma rutilância que terminam por confundir os nossos olhos através de uma escamoteação natural.

Sem reluzir, mas muitas das vezes brilhando, algumas pessoas seguem o seu caminho construindo coisas que as mantem vivas e concientes de que suas existencias não foram apenas o resultado final de um ato sexual, com uma ejaculação irresponsavelmente despejada como quem libera resíduos improdutivos.

Essas pessoas, impulsionadas por um desejo imenso de saber para viver, pois viver para saber denota uma certa alienação, ao mergulharem no mundo dos questionamentos; assinam suas sentenças.

Em alguns casos não é de bom alvitre sair do lugar comum. Isso é quase que uma regra.

Respeitar as limitações alheias é pouco. É preciso mais que isso. É preciso temer àqueles que por uma questão de desinteresse, põem-se sempre no lugar de pobrezinhos, carentes e sem dentes. Pois, pelo elevado teor de pobreza e carência reflexiva, para não entrarem em crise depressiva, precisam achar as coisas prontas e “mastigadas”.

Por outro lado, observa-se pessoas em fase processual de crescimento amargando suas angústias por simplesmente demonstrarem um desejo de mudar. Em certos casos, valha que o diga, boa parte de acomodados que ficam alijados do processo de renovação, sem nenhum tipo de queixa ou reação, ocupam-se apenas em fazer com que uma pequena parte sedenta por saber, venha a sucumbir diante de parasitas que lhes cobram compreensão quanto as suas limitações. Essas comuns não medem esforços para de uma maneira mesquinha, atrapalhar o desenvolvimento de outrem.

Em certas situações, pessoas como estas, ficariam no anonimato, expurgadas de qualquer processo evolutivo por se auto denominarem incapazes.

Mas, no atual estágio de inoperancia administrativa, elas vivem vegetando e defendendo fielmente o slogan:
“Que se dane a evolução, viva a estagnação!”.


Sendo assim, na avenida mórbida do desinteresse, os ranços desfilam com total soberania e chegam a simbolizar, pasmem, toda uma comunidade. Comunidade esta que por sorte, sempre contém alguns personagens que se lançam, com a cara e a coragem, em uma busca trabalhosa pela consubstanciação da almejada Metamorfose Ambulante. E sem se preocupar com críticas espúrias, convivem de maneira respeitosa com escaravelhos enclausurados em fúnebres casulos. E esses estão sempre prontos para no decorrer dos seus ócios cerebrais, lançarem cochichos críticos, corroborados por trejeitos ridículos, como: torção labial, bicos e olhares artificialmente vesgos.

Felizmente são coisas que só funcionam dentro de um meio mesquinho, para a alegria dos que batalham pelo vislumbramento de outros ares e conquistas.

E se acima dos milharais ainda existem corvos voando, categoricamente pode se afirmar que nesses meios “evolutivos,” é bastante significativa a quantidade de espantalhos existentes.


Jairo Cerqueira 24/03/05













sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Antítese









Embriagado de necessidades
Desesperado pelas carências
Saio à rua a divagar
E devagar vou derramando
As sobras do que me faltou

Expiro, penso, reflito:
“Acho que morri... um pouco”! (não muito)

Aproveito o que ficou desse óbito inacabado
E então, enfraquecido e impotente
Vou aos poucos me refazendo

Suspiro, tenso, conflito:
“Acho que não morri... ainda”!

Ressaqueado de necessidades
Acalmado pelas carências
Entro na rua devagar
E rapidamente vou catando
As faltas do que me sobrou

Aproveito o que restou dessa vida inacabada
E então, fortalecido e potente
Vou aos poucos me desfazendo

Respiro, denso, admito:
“Acho que não vivi... plenamente”!



Jairo Cerqueira

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O réu




                                        
                    O morcego que sugou o teu sangue
                    Propagou que ele era insípido
                    E se arrependeu profundamente
                    De Ter seus glóbulos nos dentes

                   O abutre lançou fora
                   Toda carne que houvera consumido do seu corpo
                   E agora entristecido, amaldiçoou a si próprio
                   Depois de achar-te intragável
                  

                   A natureza rejeitou como adubo
                   O seu mísero e pútrido cadáver
                   Não quis corromper a terra
                   E oportunizar sob qualquer forma
                   Um provável retorno seu
      
                   Agora, criatura, tens como companheira a solidão
                   E nessa dimensão hermética para os vivos
                   Aguarda que as portas de um tribunal
                   Venham a se abrir e em fim possas ser julgado
                   Pelo crime que se dedicou a cometer
                   Durante quase toda a sua existência

                   Ter aliciado muita gente a crer e amar
                   O ser humano que você nunca foi.

                  
                                          Jairo Cerqueira

Inter Nauta sem porto





Quero partir sem saber pra onde
E velejar num barco à deriva
Só não quero ficar só
Ah, se dessa nau à deriva
Derivassem outros como eu
Talvez soltos nesse mar insólito do pensar profundo
Nós, os derivados, sem onde aportar
Pudéssemos lidar melhor com a vida

Assim, sem esse apartheid xenófobo
Promovido por incontáveis portos inseguros
Poderá triunfar, então, o transitar filosófico

Aí, envolto numa tempestade de idéias humanitárias
Virá um CAOS desértico, sedento de uma nova ordem.

_ “Acorda, marujo!!! Não vê que já estamos aportando”?



Jairo Cerqueira

O verdadeiro dragão lunático







(As esferas do dragão global)

Anoiteceu, e nesse momento
Eu Sonato ao luar com Bethowen
Esterelizado pelo Éter na mente do 5º elemento
Visualizo meio zonzo, inter_rogações lunáticas.
Vejo a lua em espasmos, expectorando os danos
Produzidos pelos bombardeios de quem U S A
 Tecnologias em busca de açudes estrelares.

Lá no fundo... bem no fundo cataclismático do Nada
Uma voz ríspida de um barítono temeroso ecoa:

Eu sou uma incógnitaaaaa... mas o dragão que nos consome
É a pura realidade global”!

Sem entender direito, abaixo o volume erudito
E me aparto do solo de trompete que fraseia em Ré menor.
Ponho-me a observar atentamente a triste e raquítica lua
E então desvendo o tal mistério:

Era São Jorge, cabisbaixo; lamentando profundamente
Ter emprestado sua importante metade mitológica
Aos devaneios Djavanianos.

Êi! Alguém aí insinuou que eu preciso de um psicanalista?



Jairo Cerqueira 16/10/2009

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Vontade de potência






O irreconhecimento da inevitável necessidade de nos tornarmos o que verdadeiramente somos, surge porque simplesmente nascemos e crescemos sem perceber. O desejo de enxergar além dos pêlos do coelho, sair da caverna platônica e não temer ser espancado até a morte, infelizmente ainda não foi amplamente socializado.
Não se deve temer àquele mito cavernoso, pois os cegos acorrentados e póstumos não são tão ruins como aparentam ser. Eles só não enxergam e nem vislumbram alternativas.
Se desde a colisão entre o esperma e o óvulo já existe o in - consciente, é justamente nesse Big _ Bem que podia ser diferente, mas não é. Se assim fosse, poderíamos algumas vezes ordenar aos nossos desejos:
“IDE até o EGO e o faça tornar - se um pouco mais flexível”!
Quem sabe, assim, o SUPEREGO seria um pouco menos reprimível!                                                            
Mas somos verdadeiramente impotentes; não nos desvinculamos da cartilha que nos conceitua e nos preceitua de maneira preconceituosa. Enquanto isso, no mercado escarnecedor dos aproveitadores:


“Vende-se sonho importado a um povo que dorme acordado
Num país de ilusões”.



Jairo Cerqueira


Fatalidade




No dia eleito para a redenção das mazelas que trazemos conosco, um dos canhões programados para cortar o vértice do céu luminoso partiu horizontalmente e destroçou a derme de vários espectadores que foram surpreendidos ao contemplar os “astrosficiais”.
Ao modificar a sua rota, aquele explosivo nos deu uma prova concreta da suscetibilidade em que vivemos ante as leis naturais. Muito pânico, poucos gritos, alguns gemidos e, em meio a exclamações incandescentes, um rio de interrogações corria provocando um choque térmico em nossas cabeças débeis. No palco, um excesso de esterquilínio ia sendo verbalizado por uma paupérrima boca ‘microfonada’, que na falta do que dizer... Besteira! Em minha mente acovardada naquele teatro trágico, pairava um desejo de que tudo fosse uma mera ilusão de ótica (pirotécnica). Quando percebi a compactação formada por sangue, estouro, odor da fumaça, a elevada pulsação da vítima que eu ajudava a segurar e o gosto amargo da angústia em minha boca; vi a fatalidade desenhada no quebra cabeças dos meus cinco sentidos – por que não tive o sexto? – Foi ali, bem próximo de onde costumávamos ficar nos anos anteriores, que vi Handel silenciar quando a natureza invadiu sua orquestra e mudou radicalmente, não só o andamento... mas a direção dos seus reais “Fogos de artifícios”.



Tragédia no Réveillon em Salinas. O que era pra ser belo tornou-se trágico. Cerca de 40 pessoas feridas num acidente ocorrido durante um show pirotécnico.
P.s. “Fogos de artifícios” é uma peça musical que foi composta por George Frederic Handel.





Jairo Cerqueira