quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Fatalidade




No dia eleito para a redenção das mazelas que trazemos conosco, um dos canhões programados para cortar o vértice do céu luminoso partiu horizontalmente e destroçou a derme de vários espectadores que foram surpreendidos ao contemplar os “astrosficiais”.
Ao modificar a sua rota, aquele explosivo nos deu uma prova concreta da suscetibilidade em que vivemos ante as leis naturais. Muito pânico, poucos gritos, alguns gemidos e, em meio a exclamações incandescentes, um rio de interrogações corria provocando um choque térmico em nossas cabeças débeis. No palco, um excesso de esterquilínio ia sendo verbalizado por uma paupérrima boca ‘microfonada’, que na falta do que dizer... Besteira! Em minha mente acovardada naquele teatro trágico, pairava um desejo de que tudo fosse uma mera ilusão de ótica (pirotécnica). Quando percebi a compactação formada por sangue, estouro, odor da fumaça, a elevada pulsação da vítima que eu ajudava a segurar e o gosto amargo da angústia em minha boca; vi a fatalidade desenhada no quebra cabeças dos meus cinco sentidos – por que não tive o sexto? – Foi ali, bem próximo de onde costumávamos ficar nos anos anteriores, que vi Handel silenciar quando a natureza invadiu sua orquestra e mudou radicalmente, não só o andamento... mas a direção dos seus reais “Fogos de artifícios”.



Tragédia no Réveillon em Salinas. O que era pra ser belo tornou-se trágico. Cerca de 40 pessoas feridas num acidente ocorrido durante um show pirotécnico.
P.s. “Fogos de artifícios” é uma peça musical que foi composta por George Frederic Handel.





Jairo Cerqueira

3 comentários:

Sérgio Araújo disse...

Valeu Jairo,

Parabéns pelo texto, pelo blog e continue publicando as suas divagações literárias.

Abraço.

Jairo Cerqueira disse...

Valeu, Serjão. Obrigado pela ajuda.

Unknown disse...

Grande Jairo,

Espero que seu sexto-sentido, ainda que não sentido por você, tenha lhe livrado do pior.

Abraços,

R. Marcchi