quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

As cabras de Lek piu


Era mais uma terça-feira quente no sertão da Bahia e a população de Valente despertava com um fato novo e incomum para avaliar e, claro, debater.
Cansado de conviver com a rotina dos pastos repletos de “Pérolas Negras” expelidas pelas cabras (diga-se de passagem, sem nenhum valor monetário), um típico cidadão valentense caminhava de posse em posse a observar as criações nelas contidas, como quem queria começar o dia em paz com a mãe natureza. Ao deparar-se, desta vez, com uma coloração diferente em algumas bolinhas de esterco espalhadas em certo pasto, o humilde homem foi tomado por uma grande surpresa, que junto com a sua curiosidade o deixou pálido e trêmulo. Logo que conseguiu respirar normalmente, chamou um dedicado estudante de 8ª série que estava a caminho da aula de história, e contou o que viu. Sem muito conversar, o “dedicado” aluno desviou a rota, se dirigiu ao local e foi o primeiro a veicular a notícia para as pessoas que encontrava:
___ “... brilhavam como pepitas extraídas de uma jazida mineira no século XVIII!” - dizia ele.
___ “Estamos diante de um milagre!” - sussurrava uma avarenta e fanática beata.
___ “Isto é caso para estudo!” - afirmava um QI acima da média, oriundo de uma cidade vizinha.
De repente, grita fortemente um cético que observava tudo atentamente:
___ “Seja lá o que for, não deixa de ter cheiro de MERDA-FOLCLÓRICA-BAIANA!”.
Ao ouvirem este brado, os menos ansiosos por fortuna deduziram de súbito, que as Cabras de um tal de “Leck Piu” (esta alcunha é uma mistura de quase inglês com italiano), estava aproveitando e degustando, fazia algum tempo, as sobras dos acarajés e abarás feitos pela baiana Luzimar. E como “mancha de dendê não sai”, já dizia o poeta Morais Moreira, lá estavam as tão contempladas e cobiçadas bolotas de excremento caprino, reluzentes como as pedras ainda não polidas, que sustentavam o luxo da vida imperial, prontas para enriquecer e adubar, apenas o solo valentense.
Se a moda pegar, a simpática população de Valente correrá o risco de conviver com o surgimento de uma nova patologia; o CAPA (Colesterol Agro Pecuário Adquirido).
Isso será caso para estudo?


Jairo Cerqueira - 18/01/2005

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