sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Sinfonia erótica



No pentagrama do prazer
Colcheias pululam com fusas
Para melodizar o gostar corpóreo
E uma semibreve pausa silencia.
Por alguns instantes
Compassos movimentam, com passos
Um andamento ‘molto’ lento.

Sob a batuta do desconhecido
Os toques se aprofundam
E os diafragmas se dilatam naturalmente.

Movimento piano, mezzo, allegro..., Fortííííssimo.

Agora sim, as artérias
Pulsam mais rápido...
Em dez compassos.
Extrapola-se, então, num desatinado diapasão...
Um Alegro Vivace.


Sintonia? Sinfonia? Sim (a) fônicos!

Primeiro, segundo, terceiro, Aaaatooosss.

Num barulho ensurdecedor
Já estão resistentemente na 5ª. (Viva Bethooven!)

É chegado então o gran finale
Ao sono lento, Acorde!

Tudo foi sexacional, prazeroso.
Bravoooooooo!
Pronto...
Se tocaram pelas escalas do improviso.
Agora, que mais lhes resta deste solo em dupla
Se a paisagem é um Sol maior, queimando no céu ‘blues’?

Até qualquer dia?... engano!
Entre eles... nunca ‘JAZZ’ o sentimento.


Jairo Cerqueira

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Roma à primeira vista



Ítalo conheceu Laura, que já o conhecia antes que ele mesmo soubesse. É que Ítalo tinha olhos azuis. Isso chama muito a atenção das pessoas. Ao conhecer Laura, o rapaz, de imediato ficou deslumbrado: ela era dócil, meiga, falava pausadamente, exalava uma fragrância sem cheiro (isso é genial), era inteligente e..., tinha uma bunda volumosa. Isso chama muito a atenção das pessoas.
Na fluidez do diálogo, havia paridade entre os propósitos, eles se entendiam muito bem; perfeito encaixe de idéias. Apenas algumas discordâncias diminutas passavam opacas naquela enxurrada de aceitações e “coincidências”. Ela... tinha a bunda volumosa. Ele... os olhos azuis.
Combinaram, passearam, jantaram e, como quem baila solitários numa ilha, transaram sobre as areias dum arquipélago de edifícios e prédios banhados pelas águas dum oceano azul lunar. A noite era deles e nunca havia sido tão curta e insuficiente.
Agora, duas semanas já somam em suas vidas: jantam, passeiam, sorriem, e dentro deles um sentimento mútuo já começa a aparecer. Eles se olham, se sentem, se beijam loucamente e de maneira inquestionável viram ROMA ao avesso. Não há Império algum entre eles, somente o AMOR. E que ninguém se atreva a questionar essa química ebulida em seus hormônios. Ela... tem a bunda volumosa. Ele... os olhos azuis.
A loucura abismática que os consome, apoderou-se de tudo que podia se chamar de lucidez. E envolvidos pelo cheiro e pelo gosto, mandaram às  favas tudo o que não se chamava de agora. Logo, percebeu-se na protuberância abdominal de Laura, que chegava então um estranho irresponsavelmente preparado. Não! ROMA não foi queimada, foi tão somente posta ao avesso. E isso era algo perfeitamente crível pelos dois. Contudo, ela... tinha dezoito anos. Ele... trinta e seis.
Ela, uma estudante. Ele, um vendedor.
Preocupações, protestos, exclamações, interrogações, imposições e, pronto! Eles se casaram. Mais que isso; ouviram o padre dizer: “O que Deus uniu, o homem jamais separe”!
Foram viver juntos e em pouco tempo perceberam que faltava algo que amenizasse as diferenças anteriormente ocultadas entre os dois. E entre divergências, intolerâncias e conflitos, surge, no coliseu da rotina, a quase certeza de que o AMOR estava agora ao avesso. Ainda assim, quando havia tempo, encontravam sempre o motivo para a união sedenta dos corpos.
Ele... a bunda  volumosa.
Ela... os olhos azuis.

O amor é apenas uma armadilha da natureza para garantir a perpetuação da espécie”. (Arthur Schopenhauer) é



Jairo Cerqueira   

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Um cabelo no Ovo Cósmico



Com a explosão que deu origem aos apelos da dúvida.
Os paradigmas vêm sendo espatifados
Por mosquinhas que detestam o gosto da sopa
Mas adoram tomar banho dentro dela.

Os sábios senhores se amotinaram num laboratório
Com três tubos de ensaio
Maturaram a Moral, a Honra e a Verdade.
De posse dessa tríade absolutamente (in) questionável
Panfletaram aos quatro cantos um bioterrorismo
E com a bunda acomodada em seus assentos
Puseram-se a pré_julgar:
O ilegal, o imoral e o que engorda.
Nesse ínterim judiciário...
A Moral e a Cívica lambuzavam-se num bordel
Enquanto a Honra, descabaçada pelos desejos freudianos
Enjoada e barriguda... carregava uma gravidez psicológica
E a Verdade! Onde estará essa mentira disfarçada?
Após ter sido produzida de forma multifacetada
Está sendo processada pelas togas desumanas
Pois o Caráter, não se permitiu ser laboratorial.
Com medo, Ela então se refugiou no espaço sideral
Chorosa, perdida e sem saber quem era
Chocou-se em um meteoro assoberbado de dúvidas.
Dessa explosão catastroficamente maravilhosa
Surge o EU questionador:
Potente! Ameaçador! Problemático!?
Que nada:
Apenas uma centelha no intermédio entre o Acaso e o Maktub.

Jairo Cerqueira

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Fúnebre tirania



Eu vejo a Morte
Mas, ela não me vê.
Está ocupada, decompondo e putrefazendo
Organismos despercebidos
Que pensam, erroneamente, tornarem-se mais fortes.

Eles não vêem a Morte
Mas Ela os vê
Por isso, ludibriados, sentem-se poderosos
Pisoteando pessoas como se o mundo fosse pequeno
Para conter tanta gente simples.

Com isso, a morte sorrateiramente
Vitamina esses cérebros maléficos
E segue só rindo
Ao vê-los chutando cachorros mortos

Só que a natureza
Que nunca assiste espetáculos de braços cruzados
Põe mais libido, nessa trágica e tirânica sodomia.

Então, envolvidos nas entranhas obscuras do poder
Dão início a mais uma orgia funérea.
E a Morte, lambuzada de volúpia e de luxúria
Faz com que eles vivam, morrendo sem saber.

E eu vou parando por aqui!

Neste bacanal barulhento
Tenho muito medo que por um instante
Num lampejo astuto, e de soslaio...
Ela possa me enxergar.

Jairo Cerqueira

Filosofar é preciso, banalizar não é preciso.



             

 Nada melhor que discutir os fatos, apresentar idéias, decompor e recompor as “verdades” que herdamos de um sistema ideológico que nos impõe o que fazer e nos oculta o não dito. Neste aspecto, contrariando a norma lingüística, filosofia não rima com ideologia. O amor ao conhecimento nega e dispensa a o outro termo essa vil combinação de sufixos e vai diretamente buscar o inacessível aos olhos, a essência do saber, já que o que visível, muitas vezes é a negação do que aparenta ser.
Sendo a filosofia o melhor remédio contra a mediocridade com a vantagem de não possuir efeitos colaterais, a receita necessária para filosofar é o desejo de sair do lugar comum: ele é ridículo, mesquinho, reduzido, e o pior de tudo é que ainda é comum. É como dar bom dia a alguém todo o dia sem ao menos mudar o tom da voz. Também é participar de um diálogo e reduzir seu discurso a um mísero, “Também acho”, típico de alguém que a nada procura; sem esquecer do “Pois é”, no qual o indivíduo não fica calado e ao mesmo tempo não diz porra nenhuma.
O ser humano precisa argumentar, questionar, e tudo isso é inerente ao desejo de conhecer. Em certo lugar, havia um homem que sentia muita fome e mesmo estando ele próximo a uma feira livre, tendo em suas mãos uma moeda, continuava a padecer. Ele só conhecia um lado dela, e para seu azar, era o lado da efígie (ou Cara, como é mais conhecida). Portanto não conhecia os seus poderes de compra e de questionamento. Foi quando a filosofia apareceu e retirou-lhe as viseiras que o fazia enxergar em linha reta. Aí, ele não só passou a conhecer o outro lado da moeda, mas também percebeu que entre os lados havia uma borda. Foi então que num surto de análises profundas, atinou para o fato de que era justamente na borda que estava o diferencial.




    Jairo A. de Cerqueira 29/03/2006.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Células do mal

               Eu vi corpos que padeciam
              Em leitos desconfortáveis
              Matérias desfiguradas
              Contrastando com o passado
              Eu vi o riso sem graça
              Na face cônscia do sofrimento
              Gemidos que se espalhavam
              Num som que cheirava éter
              Corpos frágeis ansiavam
              A droga paliativa, a química cruel
              Tudo incomodava
              Até a alegria momentânea doía
              Os fortes ali são fracos
              Os ricos são todos pobres
              Os céticos passam a ser crentes

              Todos são pedintes, necessitados
              Todos são gente... e gente não é nada.

              No Aristides Maltês
              Eu vi a morte ceifando vidas.
                                                                    

                                       Jairo Cerqueira
            

 

                       
          

Falcão

"Sábia é a vaca, que sai cagando e andando pra não fazer ruma". (Falcão/Ceará)

Assim você me Freud!





- Inconscientemente?
- Não, em hipótese alguma!

O inconsciente é só verdade. É positivo, não é falacioso.
Não! O inconsciente não mente.
Ele tem por característica ser esporádico e efêmero. Contudo, real.
O seu mister não consiste em mentir, mas, ludibriar àquilo que entendemos comandar nossas ações... o consciente.
Este, sim, acorrentado pelos dogmas da moralidade programada, nos faz crer que estamos certos, ou errados. Enquanto o inconsciente; livre, desprendido de amarras moralistas, é a pura essência do ser e tem por característica ser, durante todo o processo vital, esporádico e efêmero.
Não obstante, ele reconhece a incapacidade humana de se auto-resolver.
Então, ele se diverte nos “pregando peças”, fazendo com que nós nos escandalizemos com os nossos próprios desejos.


 Jairo Cerqueira

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

'Indentidade'



Na dificuldade de escrever
Sobre suas origens
Alguns Negam; outros, Negão.
Na escola da vida racista
Isso vai muito além
De um mero problema semântico.

Jairo Cerqueira

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Heróis póstumos (Estamos fodidos)


Machados cortando árvores
Pássaros ficando afônicos
Queimadas apagam o verde
Que reflete o céu azul

Tarzan já não faz mais nada 
A muito pegou a estrada, não pagou o IPTU

Manguezais somem do mapa
Siris voam em gaiolas
Mariscos estão com chumbinho 
Peixes podres bóiam em ondas

Não chamem por Aquamen
Do jeito que a coisa está, nosso herói nem quer nadar
Morrendo de medo das bombas.

Gigantes pisam menores
Menores massacram anões 
O Nordeste é ovacionado
Cantado em prosas e versos
E o povo em marcha fúnebre
Caminha em busca de tetos
No teatro dos horrores cabeças discutem pra nada
Entregamos nossas canções a uma orquestra desafinada 

Se pensam em chamar Lampião, percam suas esperanças
Cansado de ser vingativo e se vestir de tabaréu
Além de entrar pra política, ainda lê Maquiavel.

Chumbinhonome vulgar do molusco marinho 'Vongolis'
Gaiolas   -  armadilha posta para capturar siris

                                     Jairo Cerqueira

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Raul

"O meu egoísmo é tão egoísta que o auge do meu egoísmo é querer ajudar".
(Raul Seixas)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Frasespeciais 1

"Favela não é hotel, vida não é novela. Qual é a graça desgraça que há no sorriso do banguela?"
(Zeca Baleiro)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Introspecção, desenvolvimento e confusão

  
        Comecei um poema: iniciei com uma síntese das coisas que eu realmente queria mostrar. Fui direto e pragmático, era preciso precisar (se virem).   
          Desenvolvi a sua essência, sem respeito às regras e ao pudor. Violei privacidades e invadi as mansões da hipocrisia. Mas, ainda faltava muito para concretizar o corpo daquele escrito. Então, sacaneei “doutores”, mexi com o ego dos “comandantes” e saí cuspindo na cara dos estúpidos”””... (100 aspas).
Ainda insatisfeito, saí falando das bestas, ou, para não haver ofensas, dos bestas. Sim!, aqueles que passam o tempo todo a tentar enganar e a falar mal de alguém, subestimando a perspicácia de outrem. Aliás, estas..., ou melhor, estes bestas quando são desmascarados, se ofendem. É!, sentem-se humilhados e protestam cinicamente, dizendo-se vítimas de alguém que quer lhes inferiorizar. Confesso que quando vejo cenas deste tipo, fico “com o pa( u ) descido”.
           Para completar, falei de mim mesmo: o quanto eu sou fraco, impotente e inoperante. Mas, envolto a todas essas anomalias, sou um animal conscio, que busca incansavelmente uma forma menos nociva de viver.
          Finalizei este poema, fundamentando todas as coisas com base em fatos que vivi. E ao colocar o ponto “final”, olhei firmemente nos olhos de todos eles e pude verdadeiramente constatar...
          Como resultado: eles acharam uma merda. E eu? Ah!, me senti aliviado.
E a quem enteressar possa, depois de toda dedicação analítica para construí-lo, este poema foi impiedosamente censurado e proibido para menores de 18 neurôneos.

                                                                     Jairo Cerqueira  18/11/04


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

100 CIÊNCIA NEGRA

Ninguém esperou que um dia
Evadíssemos do cativeiro
Gemidos viraram cantos
Recitou-se um som profundo...
Olha lá, a liberdade!
Somos cidadãos do mundo!

Liberdade a passos lentos
Invocamos nossa voz
Vozes negras vêm do fundo
Resistimos aos grilhões
Esperamos muito mais...
Somos cidadãos do Mundo
????????????????????????

Jairo Cerqueira