quarta-feira, 13 de abril de 2011

A miséria e o SUS

                                                 

Era por volta das 10h e D. Gilda observava atentamente a sua filha numa dessas macas ‘macabras’ oferecidas pelos desserviços do SUS (Sistema Único de Saúde) para o deitar dos pacientes. Não havia ar condicionado na sala, contudo o insuportável cheiro de éter até que refrigerava o ambiente, isso, quando proporcionado pela ação incontrolável de narinas desobstruídas.
_ D. Gilda! – disse o médico.
_ Oi, Doutor, diga logo... é ‘pobrema’?
_ Dona Gilda, sua filha apresenta certa irregularidade no joelho esquerdo e,...
_ Está quebrado, é ? – retrucou de imediato D. Gilda.
_ Não, D. Gilda, não é bem isso. A sua filha é portadora de uma anomalia...
_ Heeeeiiim!!? – D. Gilda o argüia desesperada.
_ Desculpe, Senhora. A sua filha está com um problema no joelho esquerdo e serão necessários alguns exames para que se possa detectar o tipo da patologia.
_ Diga logo ‘quantos é’ e quanto é que isso vai custar, Doutor. – D. Gilda já não agüentava mais aquele... digamos assim... ‘vocabulário medicinal’.
Após tomar conhecimento dos gastos que teria, e do trabalho para realizar os exames, Ela, agora mais cabisbaixa ainda, deixava o consultório sem dizer, sequer, uma palavra à sua filha. 
Sem muito boa vontade, pegou algumas sobras de dinheiro, contraiu alguns empréstimos com a vizinhança e partiu a providenciar realizar todo o processo para examinar a garota que tinha apenas 12 anos de idade.
Após realizar todo o procedimento e de posse dos documentos que datavam os dias dos devidos resultados, D. Gilda, já sabendo do seu prejuízo financeiro, chamou o vizinho mais íntimo e desabafou:
_ Você está vendo isso, Seu Jorge? Olhe o trabalho que filho dá! Olhe aqui os gastos que estou tendo por causa dessa menina!
Disse isso com o ar de revolta, e virou-se para a garotinha  com o dedo em riste... e
ameaçou:
_ "Olhe, seu diabo; você trate de ter alguma porra grave nesse joelho aí, viu? O meu dinheiro não é capim, pra depois de tanto esforço não dá nada demais".


Uma homenagem ao amigo Silas (Condutor de viatura hospitalar)



Jairo Cerqueira