Chegou o dia 31 de dezembro, e com ele a oportunidade de fazer coisas que durante os 363 dias do ano não foi possível fazê-las.
É neste dia tão memorável que algumas pessoas acordam e vão imediatamente tentando decorar alguns jargões, que, apesar de serem demasiadamente repetitivos carecem sempre de uns ensaios para saírem demasiadamente artificiais.
São frases e orações tão conhecidas que ao escutarem a primeira palavra, alguns ouvintes perspicazes já as interrompem com agradecimentos interceptativos quanto ao seu valor funcional. Afinal, tudo que vem de co-oração, pode se tornar verdadeiro.
“Te desejo tudo de bom esse ano!”
“Que Deus ilumine seus caminhos!”
“Que possamos ter muito dinheiro no bolso!”
“Saúde e paz, é só o que agente precisa. O resto se consegue!”
“Me perdoe por tudo de ruim que te fiz durante todo ano!”
Tudo isto dito com a sonoridade corrompida por uma inundação lacrimal capaz de resfriar o mais resistente sistema orgânico de defesa.
Muito, mas muito interessante também, é a espera pelo momento certo... “O certo é começar a desejar tudo isso exatamente a meia noite. É pra dar sorte, tem que ser na passagem do ano!”
Será? E o que dizer da passagem do ano onde o há Horário de Verão?
Não importa. O que vale mesmo é a tradição.
Na chegada do ano 2000, alguns esperaram o mundo acabar. Esses, com certeza, não tiveram motivação para o tão necessário ensaio de frases e orações, dedicando-se, então, somente às penitencias.
Levando a sério o Apocalipse, os mais fanáticos por farra optaram por romper o ano no Sul, pois, havendo lá “Horário de Verão”, teriam uma hora a mais para “entrarem em água dura”. Enfim, tudo correu bem, e o mundo continua existindo e possibilitando a cada final de ano momentos propícios para a redenção de alguns membros da raça humana.
Seria o dia 31 de dezembro o dia da redenção?
É um consolo saber que se pode pisotear, humilhar, desrespeitar e massacrar o semelhante durante 363 dias do ano, por saber que no 365º, chegará a oportunidade de redimir-se?
Difícil responder. É uma pseudo e ordinária incógnita. Verdadeiramente inquestionável é a existência de pessoas desse tipo, com sensibilidade programada para ser acionada somente no dia da Confraternização Universal.
Sincera e honestamente, para alguns, seria frustrante ficar de fora de uma ação globalizada, ainda que em fuso horário diferentes.
Compreender que de uma forma ou de outra, somos todos da mesma espécie, portanto, susceptíveis ao ridículo em maior ou menor proporção, é algo essencial. Porém, entender posturas exageradamente convenientes e peçonhentas como algo que deve está alheio às pancadas, no mínimo, literárias, é o mesmo que admitir a bestialidade como algo inerente a natureza humana. Pode parecer incrível, mas há os que realmente externam um ataque de sentimentalismo no último dia do ano.
E se são contados 363 dias de ganância e desrespeito em uma vida voltada somente para o individualismo, em hipótese alguma houve lapso matemático. É que no dia 1º de janeiro, essas pessoas ainda estão, sob todos os aspectos, embriagadas; portanto, sem a mínima condição para recomeçar a sacanear o seu semelhante.
Jairo – 11 de abril de 2005.
1 comentários:
Jairo,
Que parte do "nós vivemos numa sociedade hipócrita" voc~e não entendeu?.
Bricadeira à parte, que bom ouvir estas idéias. melhor ainda é refletir sobre elas.
Abraço.
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