Acima do milharal existem corvos voando.
"Eu, um ninguem, um nada, tenho por condecendencia, ou por caridade, o dom de observar sem ser observado. Sendo assim, me ponho a vagar à procura do belo e da racionalidade". (Um Corvo eremita)
Como é bonito visualizar os verdes atrelados ao amarelo ouro, cabeludo e as vezes amarronzado pelas palhas secas. Verdadeiramente o milharal é uma bela paisagem, onde os olhos se perdem à procura do seu final. Com um brilho cintilante, os milhos, como ouro, vão produzindo uma rutilância que terminam por confundir os nossos olhos através de uma escamoteação natural.
Sem reluzir, mas muitas das vezes brilhando, algumas pessoas seguem o seu caminho construindo coisas que as mantem vivas e concientes de que suas existencias não foram apenas o resultado final de um ato sexual, com uma ejaculação irresponsavelmente despejada como quem libera resíduos improdutivos.
Essas pessoas, impulsionadas por um desejo imenso de saber para viver, pois viver para saber denota uma certa alienação, ao mergulharem no mundo dos questionamentos; assinam suas sentenças.
Em alguns casos não é de bom alvitre sair do lugar comum. Isso é quase que uma regra.
Respeitar as limitações alheias é pouco. É preciso mais que isso. É preciso temer àqueles que por uma questão de desinteresse, põem-se sempre no lugar de pobrezinhos, carentes e sem dentes. Pois, pelo elevado teor de pobreza e carência reflexiva, para não entrarem em crise depressiva, precisam achar as coisas prontas e “mastigadas”.
Por outro lado, observa-se pessoas em fase processual de crescimento amargando suas angústias por simplesmente demonstrarem um desejo de mudar. Em certos casos, valha que o diga, boa parte de acomodados que ficam alijados do processo de renovação, sem nenhum tipo de queixa ou reação, ocupam-se apenas em fazer com que uma pequena parte sedenta por saber, venha a sucumbir diante de parasitas que lhes cobram compreensão quanto as suas limitações. Essas comuns não medem esforços para de uma maneira mesquinha, atrapalhar o desenvolvimento de outrem.
Em certas situações, pessoas como estas, ficariam no anonimato, expurgadas de qualquer processo evolutivo por se auto denominarem incapazes.
Mas, no atual estágio de inoperancia administrativa, elas vivem vegetando e defendendo fielmente o slogan:
“Que se dane a evolução, viva a estagnação!”.
Sendo assim, na avenida mórbida do desinteresse, os ranços desfilam com total soberania e chegam a simbolizar, pasmem, toda uma comunidade. Comunidade esta que por sorte, sempre contém alguns personagens que se lançam, com a cara e a coragem, em uma busca trabalhosa pela consubstanciação da almejada Metamorfose Ambulante. E sem se preocupar com críticas espúrias, convivem de maneira respeitosa com escaravelhos enclausurados em fúnebres casulos. E esses estão sempre prontos para no decorrer dos seus ócios cerebrais, lançarem cochichos críticos, corroborados por trejeitos ridículos, como: torção labial, bicos e olhares artificialmente vesgos.
Felizmente são coisas que só funcionam dentro de um meio mesquinho, para a alegria dos que batalham pelo vislumbramento de outros ares e conquistas.
E se acima dos milharais ainda existem corvos voando, categoricamente pode se afirmar que nesses meios “evolutivos,” é bastante significativa a quantidade de espantalhos existentes.
Jairo Cerqueira 24/03/05