quarta-feira, 18 de abril de 2012

ADÁGIO




Aqui no canto um violão
Dentro de mim...
A solidão descompassada
Procurando rumo.
A pressão desse vazio
Contrasta com a leveza cromática
Dos sons que me afagam a pele.
Agora enxergo o solo de um trompete
E a tristeza ecoa sob forma diatônica
A procurar espaço nas linhas da partitura.


Jairo Cerqueira

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Manancial de ausências




Eu, rio...
Choro, pois sei
Há mar distante
Por isso
Há lago em meus olhos
Poças de melancolia.

Jairo Cerqueira

Ambiguidade polissêmica




                                                           A pá lavra
                                                    A palavra dita.
                                                    Palavradiando
                                                       A palavra... dita!

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Faces conflitantes






Ao contemplar-me
Frente ao espelho
Rejeito o mais velho
Que olha pra mim.
Ele é enrugado
Tem um rosto cínico
Já não é mais começo
Está perto do fim.
Quem é esse cara
Que me olha na cara
E depois cabisbaixo
Resolve voltar?
É só um qualquer
Que esquece de si
E passa a vida inteira
A me procurar.
Quem é esse cara
Que agora me encara?

Jairo Cerqueira

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Vazios



Numa tabacaria
Observando pessoas, por Pessoa
Vejo a metafísica que evapora
Num rosto doce de uma criança
Que degusta um chocolate.

Dedicado ao amigo poeta Milton Filho.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A miséria e o SUS

                                                 

Era por volta das 10h e D. Gilda observava atentamente a sua filha numa dessas macas ‘macabras’ oferecidas pelos desserviços do SUS (Sistema Único de Saúde) para o deitar dos pacientes. Não havia ar condicionado na sala, contudo o insuportável cheiro de éter até que refrigerava o ambiente, isso, quando proporcionado pela ação incontrolável de narinas desobstruídas.
_ D. Gilda! – disse o médico.
_ Oi, Doutor, diga logo... é ‘pobrema’?
_ Dona Gilda, sua filha apresenta certa irregularidade no joelho esquerdo e,...
_ Está quebrado, é ? – retrucou de imediato D. Gilda.
_ Não, D. Gilda, não é bem isso. A sua filha é portadora de uma anomalia...
_ Heeeeiiim!!? – D. Gilda o argüia desesperada.
_ Desculpe, Senhora. A sua filha está com um problema no joelho esquerdo e serão necessários alguns exames para que se possa detectar o tipo da patologia.
_ Diga logo ‘quantos é’ e quanto é que isso vai custar, Doutor. – D. Gilda já não agüentava mais aquele... digamos assim... ‘vocabulário medicinal’.
Após tomar conhecimento dos gastos que teria, e do trabalho para realizar os exames, Ela, agora mais cabisbaixa ainda, deixava o consultório sem dizer, sequer, uma palavra à sua filha. 
Sem muito boa vontade, pegou algumas sobras de dinheiro, contraiu alguns empréstimos com a vizinhança e partiu a providenciar realizar todo o processo para examinar a garota que tinha apenas 12 anos de idade.
Após realizar todo o procedimento e de posse dos documentos que datavam os dias dos devidos resultados, D. Gilda, já sabendo do seu prejuízo financeiro, chamou o vizinho mais íntimo e desabafou:
_ Você está vendo isso, Seu Jorge? Olhe o trabalho que filho dá! Olhe aqui os gastos que estou tendo por causa dessa menina!
Disse isso com o ar de revolta, e virou-se para a garotinha  com o dedo em riste... e
ameaçou:
_ "Olhe, seu diabo; você trate de ter alguma porra grave nesse joelho aí, viu? O meu dinheiro não é capim, pra depois de tanto esforço não dá nada demais".


Uma homenagem ao amigo Silas (Condutor de viatura hospitalar)



Jairo Cerqueira

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

                                      



Desejo a todos os amigos e amigas que fizeram e fazem parte dessa rede
Um ano de 2000 e 11 maravilhoso
Que o tempo, corroborado pela dádiva da reflexão 
Possa ser o Senhor de nossas atitudes
E o equilíbrio o gozo pleno d'um viver PLURAL
Nesta vida... implacavelmente SINGULAR.
Obrigado a todos vocês pelo prazer da companhia
E pelo prazer de ter um banco reservado
Nessa maravilhosa academia democrática. 


Um forte abraço !